Desculpe pelo Dia Internacional da Mulher por Mário Vicente

Hoje não vou fazer aquela humilde e singela homenagem às mulheres com textos rebuscados cheio de adjetivos, nada disso. Não, hoje pretendo, antes de mais nada, me redimir. Sim, me redimir dos pecados do homem contra essa criatura universal. Também me desculpar. Claro, pedir desculpas por todos os males que os homens já cometeram contra vocês. Mil perdões pelos esquecimentos mais simples possíveis, desculpa pela falta de sensibilidade nos momentos mais cruciais. Sinto muito mesmo, pelo tratamento injusto no dia a dia, tanto no trabalho quanto na família, com vocês sempre em segundo plano, coadjuvantes de um todo-poderoso, o machão. Hoje eu faço aqui o mea culpa.

Todo homem sabe que vocês são bem mais forte do que nós, por isso, Deus escolheu vocês para dar à luz e iluminar o mundo com a mais pura criatura do universo, a vida, pelo fino fio que conduz essa energia divina. Então, espero sinceramente obter aqui esse perdão. Os perdões pelas nossas fraquezas, infantilidades, desconfiança e falta de companheirismo. Nem quero falar da crueldade na Lei Maria da Penha: oras, se nossa cultura e comportamento fossem diferente, isso jamais precisaria existir e ainda assim, tampouco funciona, e sim mais humilha do que ajusta e corrige. Portanto, o que posso dizer ou fazer? Justo agora no auge das comemorações e dos aplausos a vocês. Está certo. Entendi esse olhar só de imaginar. Vou tentar então. Prometo a partir de hoje olhar vocês com os olhos do coração, abrir a alma para ventilar essa eterna caverna e me debruçar na janela da paixão, que absorve toda a formosura da mulher.

Mas de qualquer forma comemorem esse dia sim: com toda pompa, regalias, manhas, mordomias, muita música e gargalhadas, daquelas que só vocês sabem dar. Seja qual for o seu evento, você será o centro de tudo isso e óbvio, por conta de um merecimento natural, divino e pelo simples fato de ser apenas Mulher. Não falo isso como se julgasse vocês pelo sexo frágil, longe disso, pelo contrário, vejam quanta evolução a mulher realizou nas últimas décadas: mulher multifunções, por trabalhar fora e dentro de casa, ser mãe, esposa, amiga, conselheira, amante e tantas outras habilidades para satisfazer o ego machista. E os homens? No que evoluíram? Em nada, ou melhor, somente nos grandes e poupudos salários ganhos nas empresas e indústrias mundo afora em detrimento do delas.

Oh! Mulher, menina, mocinha, garota, balzaquiana, senhora, senhorita, madame, mademoiselle, amor, paixão, minha vida, docinho, querida enfim, não importa qual o tratamento que é dado a esse universo de almas femininas, de anjos terrestres, de corpos sofridos, pois tudo isso, tem sido - na grande maioria viu - da boca pra fora. Sim, pois lá no fundo, nós, homens, ainda não somos dignos de vocês e nem tivemos a capacidade de conquistá-las como verdadeiros cavalheiros. Muito menos ser merecedor de todo esse afeto e compaixão e nem ser amado assim, incondicionalmente. Porém, acredito que ainda há tempo, pois sua bondade é uma bênção na família, sua luz é tão divina quanto a voz de Deus, por isso, quem sabe, ainda daremos o seu devido valor: primeiro como ser humano, depois sim, como Mulher.

Desculpe pelo Dia Internacional da Mulher, uma data como tantas que são comemoradas. Nossa! Maravilha tudo isso. Nos dias que se aproximam o 8 de março entra um glamour que contagia até o mais pulha dos homens, o mais infame e mais canalha, os quais como sempre, repetem a mesma cena do ano anterior: faz-se a entrega simbólica de uma flor, de um cartão, de um convite para jantar, de um passeio ou uma viagem, e depois? Pois é, e depois Mulher? No cotidiano da velha rotina, como ele vai tratá-la? Como ele vai olhá-la? Como ele vai conversar com você? E também, como você se sentirá um dia ou dois depois do dia 8? Imagino que vai tentar amenizar o sentimento verdadeiro. Mas um olhar lacrimoso, um sorriso pálido, um abraço frouxo, uma palavra de agradecimento sem muita força e sem voz, dias depois vão condenar-te às frustrações do dia a dia e aí o mundo inteiro será um só, até que venha o Dia das Mães, o Dia dos namorados, o seu aniversário, a Páscoa, Natal e todas essas datas lindas e maravilhosas para oficializar nosso descompromisso anual, geral e irrestrito.

Por favor, aceite minhas desculpas, pois estou sendo honesto neste momento e gostaria imensamente que os homens fizessem uma reflexão profunda a partir do dia 8 e ai sim, durante o ano inteiro fazer jus a sua existência entre nós, os verdadeiros sexo frágeis. Que desde esse dia e para sempre, seja realmente o seu dia, e um dia de cada vez, com todo carinho, respeito, amizade, orgulho, admiração, amor e uma dose certa de tesão. Quem sabe no futuro, o homem seja o merecedor da sua beleza e sensibilidade a exemplo do eterno paraíso que Deus criou, quando ouvia uma sinfonia no céu imaginando as suas duas e mais lindas criaturas do universo em perfeita harmonia: o Homem e a Mulher, com o mesmo peso e medida no infinito ritmo do amor.

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Escritor, jornalista e publicitário 

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