E se um dia, as pessoas que você mais ama nesse mundo, desaparecessem sem deixar explicações? Mas isso não é um desaparecimento comum. Pense que, em um segundo, você está segurando a mão de alguém e no outro, esta pessoa simplesmente some!? Agora, eleve isso à uma escala mundial; cerca de 2% da população da Terra. Mas isso ainda é pouco. Imagine que, depois de 3 anos, você e o resto do mundo, ainda não sabem absolutamente nada sobre o desaparecimento de seus entes queridos; convivem com uma dúvida, tão viva e corrosiva quanto um câncer, lhes consumindo por dentro ao deixar latente a seguinte pergunta: “Por que eu, apenas eu, fui deixado para trás”? Este é o plot de The Leftovers, que retrata a vida dos que ficaram após um suposto “arrebatamento bíblico” levar os puros e deixar os impuros para serem julgados.
A série estreou em 2014 pelo canal HBO.
É uma produção americana criada por Tom Perrota
e Damon Lindelof. Criador, produtor e roteirista de Lost,
Lindelof dá peso à série. Mas embora
seja uma referência interessante, eu fico um pouco preocupado, pois me
questiono se teremos respostas para tudo? Eu explico: The Leftovers segue a
mesma dinâmica de Lost no quesito “dúvidas e mistérios”, com muitas, mas muitas
questões a serem respondidas. No entanto, Lost ainda é uma frustração para
mim, pois o seu final não correspondeu à trama desenvolvida e deixou muitas pontas
soltas. Enfim, deixando de chorar as pitangas, a segunda temporada desta série
intrigante está confirmada e a estreia acontecerá entre Junho e Agosto deste
ano.
Sinopse
e comentários:
A cidade fictícia de Mapleton, em Nova Iorque, é o cenário da história e também, uma
suposta amostra de como ficou a vida dos deixados para trás em todo o mundo. Nela, o xerife Kevin
Garvey, interpretado por Justin Theroux, é o protagonista da trama.
Guardião da cidade, é pai de Jill, Margaret Qualley, uma adolescente confusa que carrega uma apatia
evidente, e Tom, Chris Zylka,
seu filho mais velho, que some no mundo ao se envolver com uma seita.
Kevin
é atormentado pela ausência
de sua esposa Laurie Garvey, personagem vivido por Amy Brenneman. Nem os frequentes exercícios, mostrados por
meio das corridas matinais e pelos remédios, tomados com frequência, são
capazes de fazê-lo aceitar a sua partida. A
profundidade desse personagem é explicada aos poucos, quando entra em cena Dean, Michael Gaston, um
homem misterioso que assume a missão de exterminar
todos os cachorros de Mapleton. Segundo ele: “... os cachorros da cidade não são mais os mesmos após o arrebatamento”.
Dean conhece Kevin. No entanto, é o xerife que afirma não se lembrar do matador
de cachorros. Como, onde e quando eles se conheceram e o que vincula esses dois personagens?
Além disso, o pai de Kevin, antigo
xerife da cidade, internado em uma casa de repouso e recuperação de doentes
mentais após um “ataque de raiva”, reaparece
com um segredo sobre a possível causa do “arrebatamento”.
Quando o fardo parece pesado para Kevin, uma pessoa surge em sua vida: Nora Durst, Carrie Coon, uma mulher fragilizada pela perda de seus filhos e marido, arrancados abruptamente de sua
vida. Ambos buscarão redenção nos braços um do outro. Uma tarefa difícil, visto que a complexidade de seus traumas são tão reais quanto a afetividade sentida entre eles.
Nora não convive apenas com a sua dor, mas com a de muitas
pessoas. Trabalha no "Departamento de Partidas Repentinas" e sua função é: entrevistar famílias que tiveram seus parentes
“arrebatados”. Por meio das informações obtidas, avalia-se a possibilidade de conceder aos familiares o direito à um tipo de “seguro social”. No entanto, lidar com isso na maior
parte do tempo, exige que ela, na privacidade do lar, utilize um método pouco
usual e nada seguro para aliviar o seu sofrimento.
Com tantas interações, a vida de Kevin
se vê dividida entre: os cuidados com o que restou de sua família, a
segurança da cidade, os mistérios que inundam a sua mente, a difícil entrega à
um novo relacionamento amoroso e é claro, a presença de Laurie.
Opa!
Como assim??? Ela não foi “arrebatada”?
No
início, imaginamos que sim, pois há muito saudosismos no comportamento de Kevin ao olhar as fotos que mostram uma
família feliz. Mas com o passar do tempo, descobrimos que Laurie ainda figura entre os que ficaram.
Ela abandona o lar, seu marido e filhos, tempos
depois do desaparecimento das pessoas e se junta aos Guilty Remnant (Remanescentes Culpados). Um culto, uma
seita, religião, filosofia de vida? É difícil definir o que são, mas é fácil
afirmar sobre a forma como se organizam e definem estratégias para penetrar na
vida individual e coletiva das pessoas.
Liderados por Patti Levin, Ann Dowd, todos os integrantes deste núcleo usam roupas brancas, fumam e não falam. Abdicam do direito de verbalizar, comunicando-se apenas pela escrita.
Mais
questões invadem a cabeça de quem assiste à série: “Quem são essas pessoas e o
que querem”?
O
objetivo deste grupo é revelado aos poucos, conforme a seleção de candidatos ocorre.
Meg Abbott, Liv Tyler, é uma das selecionadas que depois de muito
resistir, acaba se rendendo a uma ideologia, até então, desconhecida. Em seu
processo de adaptação, fica claro que Meg
precisa abandonar seus valores, vínculos com uma vida de mentira, preferências,
paixões e etc., pois a vida, a partir daquele momento, não terá cor. Tudo será branco e sem alegria, já que as pessoas estão à
mercê de tudo e sem possibilidade de defesa ou simplesmente, dizer sim ou não. Se neste ponto, a opinião não vale, então porque falar? Basta apenas tragar tudo o que existe de podre, na
esperança de que o corpo seja
contaminado e a morte,
silenciosa e certeira, chegue o mais rápido possível. Assim, morrer, parece ser
a única decisão que de fato se tem controle.
Com o passar dos episódios, finalmente temos o objetivo do grupo revelado: não deixar que as
pessoas esqueçam do dia do
“arrebatamento” e cada vez mais, instigar que o curso de vida de todos nunca se restabeleça.
Opondo-se
à eles, está o padre Matt Jamison, Christopher
Eccleston, que faz campanha contra o movimento.
Sua esposa, debilitada por um acidente de carro no dia fatídico, é o seu grande
estimulo. Por ela, Matt não deixará que a palavra de amor e esperança divinos, seja "arrebatada" da mesma forma que as pessoas.
De uma maneira muito
interessante, ele expõe os membros do Guilty Remnant ao imprimir tabloides que contradizem o culto, revelando que
muitos deles estão desaparecidos.
Opa! Calma ai??? Como assim “DESAPARECIDOS”? Se são membros desta nova comunidade, como poderiam?
Voltamos à ausência Laurie, sentida duramente por Kevin. Você compreende que uma pessoa pode desaparecer de
diversas maneiras da vida de outra. Não
é necessário sumir de casa, do bairro, do planeta. Basta apenas ignorar ou simplesmente, não se
importar com o outro. A ausência emocional, mesmo estando ao lado de
alguém, é algo terrível! Por mais que você se cerque de gente, não há braços
suficientes para lhe abraçar e dizer: “Você está seguro”.
Por isso, mesmo que um
integrante do culto ande pela rua, trajado de acordo com a sua nova vida, a sua
identidade terá sumido. Tudo aquilo que ele foi, representou e deixou, perderá
o sentido. É contra isso que Matt
luta: a perda da identidade e a decomposição da humanidade”.
Mas será que ele está certo?
Qual ideologia é a mais qualificada para dizer como devemos viver, reconstruir
nossas vidas, aceitar e contradizer direcionamentos, sejam eles divinos ou não?
Uma solução muito
interessante é dada pelo personagem Wayne,
o “Santo Wayne”, interpretado por Paterson Joseph. Ele é líder
de uma seita secreta, muito diferente da Guilty Remnant. Sua missão
é simples: retirar a dor que consome as pessoas.
A religiosidade, que
permeia a trama a partir das questões sobre o “arrebatamento”, é enaltecida pelos “milagres” realizados por Wayne.
Contudo, as suas práticas consideradas ilegais, o tornam fugitivo da lei.
Procurado pela polícia, conta com a ajuda de Tom para proteger sua mulher, grávida de alguns meses, após a
polícia invadir o seu esconderijo. Como guardião, Tom descobrirá que não é o único selecionado para esta missão.
The Leftovers é uma distopia e nela, a
corrupção do homem está sutilmente disfarçada. As normas sociais revestem uma
vida falsa e sem propósito, pois para a maioria dos que vivem, o sentido da vida se foi quando os que amavam
partiram.
Novamente, a ideia de solidão e por meio dela, entrar em contato com o seu “eu” e perceber que, durante uma vida inteira nada foi produtivo, corrompe primeiro a mente, depois o
corpo e a alma e por fim, a sociedade.
A ideologia de algo,
utilizada com o simples intuito de fazer o bem, pode se reverter em uma
ferramenta de controle que oprime e escraviza o ser humano. Por isso, o medo do
novo, julgamentos e pré-conceitos de uma ideia, levam a uma nova tentativa de
controle e opressão. “Vamos prender
aquele cara que prega a paz e faz milagres. Pode ser que seus seguidores
representem perigo.”, “As ideias
daquele grupo são subversivas e inconstitucionais. Pau neles!”. Alguém já viu
exemplos assim? A questão não é catequizar ou escravizar, mas dar às pessoas o direito de escolher.
Não é preciso viver em um
universo Cyberpunk ou em mundos que sucumbiram à hecatombe zumbi, para ver que
o caos está mais perto do que se imagina. Nesta busca por um sentido na vida, sempre
surgirão os Messias e com eles, seus oponentes. Seguirão juntos até que o novo
mundo entre mais uma vez em seu ciclo de distopia e com isso, mais desconstruções e ideologias sobre o sentido único de nossa existência. Gosto muito das palavras de Neil deGrasse Tyson, que elucidam muito bem essa questão:
O que representa o desaparecimento das pessoas? Como lidaria com isso? É possível se desapegar? Aliás, o que é preciso para elaborar o luto, mesmo que a pessoa amada esteja viva e ao seu lado? Seria esta a sua
chance de reparação, ao começar do zero coisas que antes foram ruins? Seria esse o sentido da vida?
Você é capaz de responder as estas e a outras questões?
1° temporada
Ano: 2014
Episódios: 10
Elenco:
Oi Ca,
ResponderExcluirnossa não conhecia a série, mas gostei. Tem na netflix? Assisto tudo por lá kkk
bjos
http://blog.vanessasueroz.com.br
A primeira temporada desta série provou ser muito atraente para os fãs da série. Espero que agora a segunda temporada espero mostra mais detalhes desta história, ele definitivamente tem um excelente elenco.
ResponderExcluirEu vi todos os capítulos ea final não decepcionou. Eu adoro assistir a segunda temporada e se eles respondem a alguns dos mistérios.
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